
mpacotaram a autoestima em frascos, caixas, adereços, procedimentos, roupas e não importa o quanto a gente teatralize a existência, o que está dentro não muda.
[Acordei lembrando da professora de geografia, na quinta série, cujo nome eu não recordo tamanho era o desespero de saber que teria de encontra-la duas vezes na semana. Todo mundo que viveu na periferia, deve ter ouvido: Essa sala é a pior da escola. Em um determinado dia, não contente em repetir como éramos uma turma horrível, trouxe o adjetivo “burros”, vocês são burros e nunca servirão para nada, eu estou aqui ganhando o meu. Apesar da minha péssima memória, o rosto dela ficou registrado, como uma fotografia do desespero de quem não consegue se conectar com a realidade de pessoas, muitas, que vão para a escola com o intuito de ter como se alimentar, fugir da violência vivenciada em casa, entre outros acontecimentos sociais, aos quais os olhos da maioria fecham-se e repetem: Mas fazer o quê, né? É assim mesmo.]
Toda pessoa periférica, às vezes demora para entender que foi atravessada por violências que comprometem a sua autoestima. Não é sobre parecer uma pessoa bonita, a beleza é um conceito determinado pela própria indústria que a vende. Mas aqui eu quero falar de fé e, jamais em defesa de uma instituição religiosa, é sobre o que reside dentro de si, em termos de propósito de vida, alma, função, localização histórica de existência.
Eu sinto que não há mais tempo, para dobrarmos os joelhos por coisas que não preenchem a alma. Se o raso também afoga, então a alternativa é mergulhar nas profundidades da situação humana, não para viver em estado de medo e sofrimentos tantos, como sugerem as mídias, mas sim, para apressarmo-nos em perguntar: Como podemos melhorar?